Bullying: TJ tem programa para escolas

domingo, 14 de novembro de 2010 Postado por Allan Pitz
Natal - O Tribunal de Justiça do Estado fechou uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Natal no combate ao bullying. O projeto Justiça e Escola não trata exclusivamente do assunto, mas inclui discussões sobre todos os tipos de violência em ambiente escolar. Visitas são realizadas por educadores e integrantes do Judiciário às 45 escolas participantes, conforme a demanda, e professores e gestores participam de uma capacitação anual, para se tornarem “multiplicadores”.

Em seu quinto ano, o Justiça e Escola terá sua ação formativa de 2010 nos dias 17 e 18 de novembro. Serão capacitados 180 educadores que irão conhecer a metodologia e outros 120, que já participam do projeto, terão um intercâmbio pedagógico para discutir o que vem sendo feito nas diversas escolas. “Durante o período do projeto, somente uma escola nos procurou para irmos até lá tratar especificamente de bullying, mas nas palestras são debatidos diversos assuntos que incluem o bullying”, ressalta a coordenadora do projeto na SME, Luzia Valentim.

O Justiça e Escola trabalha com “pilares”, dentre os quais estão incluídos “responsabilidade”, “respeito”, “sinceridade”, “senso de justiça” e “zelo e cidadania”. “O projeto tem um primeiro viés de aproximar o Judiciário da sociedade, mas também um objetivo pedagógico de minimizar a violência”, ressalta Luzia Valentim. O trabalho se baseia em uma ação pioneira desenvolvida no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, onde diversos casos de violência em ambiente escolar levaram à adoção de práticas em prol da chamada cultura de paz.

Na rede estadual de ensino, de acordo com o coordenador de Desenvolvimento do Ensino (Codese), Domingos Sávio de Oliveira, as capacitações promovidas pela Secretaria Estadual de Educação (Seec) já incluem a preparação dos educadores para trabalharem com a realidade do bullying, habilidade que nem sempre os docentes adquirem na universidade.

A grande expectativa, porém, é mesmo a implementação, a partir de 2011, do Plano de Educação em Direitos Humanos. “Ele vem sendo discutido desde o ano passado com o Núcleo de Educação para a Paz da secretaria e foram feitas várias reuniões na fase de elaboração. Vamos entrar nesse período de transição do governo, mas esperamos que o plano esteja em plena execução a partir de 2011”, enfatiza.

O documento irá prever ações de prevenção e combate aos diversos tipos de violência cometidos em ambiente escolar, incluindo as agressões que caracterizam o bullying.

Na avaliação do coordenador, a Seec tem agido de forma marcante na capacitação de professores em todo o estado e em todos os níveis de ensino, ampliando a compreensão dos professores sobre os problemas de violência escolar e melhorando o olhar dos educadores quanto ao bullying, de forma que os docentes possam contribuir para crianças e jovens saírem da situação de risco na qual se encontrem. “Além do plano, a Assembleia já aprovou uma lei que fortalece as políticas pedagógicas em prol da cultura de paz”, acrescenta Sávio.

Educadores ressaltam o papel da família para enfrentar casos

O Colégio Marista já está utilizando a cartilha do CNJ sobre bullying, encartada hoje na TRIBUNA DO NORTE. O objetivo da direção é despertar educadores, alunos, pais e comunidade para um problema cada vez mais sério. “Na verdade, o bullying é algo muito antigo no espaço escolar, não é novo, nem é moda. É uma realidade no mundo e tem se agravado. Aparece dentro das escolas, mas também em outros espaços de convívio. É um problema social”, ressalta a vice-diretora educacional do Marista Natal, Fátima Guilmo.

Ela aponta o estresse da vida moderna, a superproteção dos pais, a falta de tempo da família em conviver com as crianças e o individualismo cada vez maior das pessoas como alguns dos motivos que têm agravado o quadro. “No trânsito mesmo, um motorista que desrespeita o outro está cometendo um bullying. A gente vê bullying até na disputa pela Presidência da República.” O Marista lançou uma campanha em 2007 contra esse tipo de violência, com o tema “Bullying é muito sem noção!”.

O trabalho de capacitação dos professores para identificar e tratar do assunto é contínuo e no próximo ano será iniciado um novo programa, baseado na ideia de que “gentileza gera gentileza”, em prol de uma convivência melhor entre toda a comunidade escolar. “Muitos pais acham que a agressão que o filho cometeu, que muitas vezes não é física, se trata apenas de uma brincadeira sem maldade. Consideramos aqui no colégio que brincadeira só é legítima quando alegra as duas ou mais partes envolvidas. Quando só um fica feliz, não é brincadeira”, alerta.

O coordenador pedagógico Nery Adamy revela que o bullying normalmente gera o isolamento, ou queda no rendimento dos alunos que são vítimas. “A gente começa a ver mudança na postura do estudante. Aquele que interagia, conversava, de repente fica muito introspectivo”, exemplifica. Algumas vezes o professor detecta o problema em sala, transmite à coordenação e é feita uma espécie de investigação sobre o que vem ocorrendo. “Outras vezes é o pai que nos procura com a suspeita.”

O coordenador diz, no entanto, que também há exageros por parte das famílias, que “não reconhecem a dinâmica entre os próprios alunos”. Ele afirma que o bullying se caracteriza bem em situações nas quais, por exemplo, uma parte da turma se volta contra um aluno, mas em outros casos o problema não passa de um conflito normal entre dois estudantes, algo natural da idade.

De toda forma, prevenir é o melhor caminho. “É raro o aluno mesmo revelar o que vem sofrendo. Ele já está dentro de uma situação de medo, inclusive medo de represálias. Por isso não permitimos de forma nenhuma que isso aconteça dentro da escola. Combatemos desde os pequenos detalhes, porque muitas vezes começa com um apelido e acaba gerando uma situação de desconforto para o aluno.”

Conseguir uma compreensão melhor do que é ou não é bullying, no âmbito familiar entre pais e filhos, também é uma preocupação entre os pedagogos da rede pública de ensino. “Nenhuma ação pedagógica da secretaria poderá avançar sem o envolvimento das famílias e da comunidade direto no chão da escola”, entende o coordenador de Desenvolvimento do Ensino (Codese), Domingos Sávio de Oliveira, da Secretaria Estadual de Educação.

Domingos Sávio defende uma participação efetiva dos pais, na identificação e controle dos problemas envolvendo as diversas formas de violência cometidas pelos filhos e contra seus filhos. Segundo ele, a comissão de Educação para a Paz da Secretaria Estadual desenvolve um trabalho contínuo em parceria com programas como o Proerd, da PM, e outras ações de conscientização dos estudantes.

Matéria Wagner Lopes

Notícia Tribuna do Norte

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