Violência nas escolas não tem relação com classe social, diz pesquisadora

domingo, 14 de novembro de 2010 Postado por Allan Pitz


São Paulo - A violência escolar independente de configuração familiar, classe social ou etnia, analisa a doutora em psicologia Dagmar Silva de Castro, professora e pesquisadora da Cátedra de Cidades da Universidade Metodista de São Paulo. Dagmar faz parte de uma força tarefa liderada pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude do Ministério Público de São Paulo que atua em escolas públicas de São Bernardo do Campo desde dezembro de 2007.

"(A violência) não se atrela à configuração familiar. Não é porque os pais são separados que o filho é violento. A violência independente de classe social, etnia", defende. A pesquisadora pondera que a violência não é um problema exclusivo do espaço escolar, mas um fenômeno contemporâneo, resultante de uma "cultura da violência". "Ela perpassa todo o cotidiano. A escola é uma 'microesfera' onde se apresentam os sintomas de uma patologia maior", explica Dagmar.

O crescimento da violência está relacionado, na visão da a psicóloga, a questões como o modelo de consumo, as relações econômicas e o acirramento da desigualdade e da intolerância na sociedade. De acordo Dagmar, a violência chega à escola até mesmo porque é a instituição de maior permancência da criança e do adolescente, onde surgem questões naturais como a necessidade de autoafirmação perante o grupo, por exemplo.

Mas também surgem conflitos relacionados à intolerância com quem é diferente – que gera comportamento de bullying entre os pares, por exemplo – e enfrentamento com figuras de autoridade. "Falta referência de figuras adultas que realmente passem referências saudáveis a crianças e adolescentes", detecta. "Sem referência em outros espaços (com figuras de autoridade) os alunos não conseguem enxergar professores como adultos que seriam referência", atesta a pesquisadora. Ela acredita que, nesse cenário, aumenta a influência entre os próprios adolescentes.

A violência doméstica também tem reflexos na escola, na medida em que os jovens repetem no espaço escolar um padrão de violência que ocorre no interior da família. "Se há um espaço de violência nas relações mais primárias, no espaço que seria para garantir efetividade, segurança, eles vão expressar isso em outros lugares especialmente na escola", situa Dagmar.
Combate à violência

A redução da violência nas escolas passa pelo envolvimento da família, comunidade, órgãos públicos de segurança, educação, esporte, lazer, cultura e saúde, como acontece na força tarefa que levou à organização do projeto "Parceria na construção de uma cultura de paz no ambiente escolar". A iniciativa, capitaneada pelo Ministério Público, atua em escolas públicas do município de São Bernardo do Campo.

Em três anos de funcionamento, o projeto já contabiliza bons resultados. "A Vara da Infância avalia que houve redução nos procedimentos por ato infracional", afirma a promotora de Justiça da Infância e Juventude de São Bernardo do Campo, Vera Lúcia Acayaba de Toledo.

O sucesso da iniciativa levou o conjunto de órgãos públicos e entidades envolvidas no projeto a elaborarem o livro "Uma nova aquarela: desenhando políticas públicas integradas para o enfrentamento da violência escolar em São Bernardo do Campo", lançado nesta sexta-feira (12). A publicação é acompanhada por dois vídeos que transportam para a linguagem visual a proposta do livro para o combate à violência nas escolas.



Matéria Suzana Vier

Rede Brasil Atual

Postar um comentário